Quão alto vai o balão? Um novo exercício de hiato do produto

Quem acompanha a conjuntura econômica atual sabe que o tema do momento é a atividade econômica — ou melhor, o excesso dela. Desde 2023, o hiato do produto tem se mantido consistentemente acima de 1%, ou seja, acima do seu suposto nível de equilíbrio. Diante desse cenário, duas perguntas são inevitáveis: quão alto este balão já subiu? E será que já atingiu o pico?

O contexto, marcado por um claro superaquecimento da economia, exige uma análise mais minuciosa e desagregada. O forte crescimento de 4,6% no consumo privado, a antecipação de precatórios e benefícios do INSS, além de um mercado de trabalho aquecido — com a criação de 1,5 milhão de vagas —, ajudam a explicar o ambiente inflacionário persistente.

Para se ter uma ideia, o FGV IBRE estimou um hiato de 3,6% no terceiro trimestre de 2024 e de 3,1% no quarto — valores que se aproximam da minha própria estimativa, de 2,87%. Apenas para efeito de comparação, o hiato “ideal” gira em torno de 0%, pois representa o ponto de equilíbrio entre o nível observado da atividade e seu potencial.

Na minha leitura, utilizei quatro metodologias distintas para estimar o hiato do produto (como mostrado no gráfico abaixo). Todas convergem para a mesma conclusão: estamos operando significativamente acima do nosso nível de equilíbrio. Ainda que as medidas de hiato sigam pressionadas no curto prazo, acredito que devam começar a ceder à medida que os efeitos da política monetária se consolidem. Assim, tenho uma visão ligeiramente menos pessimista que a do Boletim Focus, projetando um crescimento de 2,1% do PIB para 2025.