Batendo na ponta da faca: A taxa de juro real neutra no Brasil

O efeito manada é um fenômeno já amplamente estudado, com aplicações que vão da psicologia à economia. Freud, em 1921, publicou o clássico “Psicologia das Massas e Análise do Eu”, leitura fundamental para compreender fenômenos como a rápida expansão das igrejas evangélicas no Brasil e sua posterior influência sociopolítica. Hoje, no entanto, uma nova pauta virou exemplo desse comportamento coletivo: a crítica de que o Banco Central do Brasil estaria mantendo a taxa de juros acima do necessário. Mas será mesmo?

Para debater essa questão, é preciso entender como o Banco Central enxerga a chamada taxa de juro real neutra – e, mais importante, como a estima. Essa taxa, afinal, não é observável diretamente e exige técnicas estatísticas para sua inferência, servindo como referência central para os ajustes promovidos pelo Comitê de Política Monetária (COPOM).

Seguindo esse propósito, repliquei o estudo mais recente do Banco Central (2024), buscando compreender as metodologias utilizadas e frequentemente atualizadas pela autoridade monetária. O grande mérito do box técnico produzido pela instituição é a combinação de diferentes medidas: o BC utiliza uma série de filtros estatísticos, indicadores de mercado e outras aproximações econométricas, consolidando-os por meio da mediana.

Com base nessa abordagem, encontrei que a taxa de juro real neutra no Brasil atualmente estaria em torno de 6,61%. Ao somar esse valor à meta de inflação, o juro nominal neutro estaria entre 8% (considerando o limite inferior da meta) e 11% (considerando o limite superior). Se tomarmos o centro da meta, chegamos a uma taxa nominal neutra estimada de 9,61%.

Para quem quiser se aprofundar, o competente José Monteiro desenvolveu um estudo complementar, utilizando medidas de mercado para estimar os próximos passos do BC nas reuniões do COPOM: https://bit.ly/4iYjT76

Minha opinião: Diante das estimativas calculadas e do recente aumento de 1 ponto percentual na taxa Selic, torna-se evidente que as medidas adotadas pelo Banco Central não são exageradas, mas sim necessárias. Elas configuram uma política monetária contracionista com o objetivo de combater, quase que solitariamente, a inflação persistentemente elevada no país.