Todo economista sabe: a última variável a reagir no ciclo econômico é o desemprego. Desde o ano passado, temos convivido com uma taxa de desemprego surpreendentemente resiliente, atingindo mínimas históricas desde o início da série em 2012. No entanto, como economistas, gostamos de pensar em conceitos de equilíbrio. Surge então a pergunta: qual seria a taxa de desemprego de equilíbrio no Brasil hoje?
Para responder a essa questão, repliquei a metodologia proposta por Ball & Mankiw (2002) no artigo “The NAIRU in Theory and Practice”. Nele, os autores inovam ao permitir que a NAIRU varie ao longo do tempo, utilizando o filtro de Hodrick-Prescott (HP) para isolar a tendência de longo prazo. Um dos pontos centrais da metodologia é o uso da Curva de Phillips como base para estimar a inclinação da taxa de desemprego de equilíbrio, elemento fundamental para capturar a dinâmica entre mercado de trabalho e inflação.
Aplicando essa abordagem aos dados brasileiros, estimei uma taxa de desemprego de equilíbrio em torno de 7,38%. Esse resultado sugere que a economia brasileira opera hoje abaixo desse nível, o que ajuda a explicar a persistência inflacionária acima da meta — fenômeno típico quando a atividade supera seu nível de equilíbrio e pressiona preços.
Opinião: Na prática, a taxa de desemprego registrada em 6,5% no trimestre móvel encerrado em janeiro reflete exatamente esse cenário de economia pressionada, corroborando os sinais já emitidos pelo PIB. Assim, mais uma vez, vemos o Banco Central assumindo a difícil (e solitária) missão de conter essa pressão via política monetária, ajustando a taxa Selic para buscar um crescimento mais equilibrado e sustentável da economia.
Fonte: IBGE; BACEN
Elaboração: Luís Ricardo Melo